O consumo de mídia durante a quarentena
- Advocacia Manhães de Almeida
- 9 de mar. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de mar. de 2022
De acordo com a Global Web Index, mais de 80% da população estadunidense e inglesa afirmam ter consumido mais conteúdo desde o início do surto do Coronavírus, principalmente pela televisão e pelo Youtube, mas também por outros meios e inúmeros veículos.
O tipo de conteúdo consumido, porém, varia bastante de acordo com a faixa etária dos entrevistados, assim como o meio utilizado.

A geração Z, hoje entre 16 e 23 anos, se concentra no consumo online de vídeos, como Youtube e TikTok (51% de penetração) e streaming (NetFlix, Amazon Prime Video, etc – 38%), mas também passa grande parte de seu dia nos videogames e ouvindo música em aplicativos de streaming, como Spotify e Apple Music – inclusive é a geração que mais ouve música enquanto realiza outras atividades, como estudar, trabalhar e praticar atividades físicas.
Os Podcasts, apesar de estarem crescendo bastante, ainda atingem apenas 11% da população entrevistada nessa faixa etária; mas menos significante ainda é a imprensa física, como jornais e revistas impressos – apenas 9%. Claro que isso se deve pela conectividade da geração, que tem tudo digitalizado na palma da mão, mas também é muito importante deixar bem claro o quão preocupante é o fato de que, para a geração Z, é mais importante ouvir músicas e jogar online do que pesquisar e entender notícias do nosso turbulento cenário.
Além disso, possivelmente pelas aulas online, os livestreamings ainda não se fazem tão populares com este público (17%) – o que é, sim, curioso e intrigante, afinal é a geração mais adepta das conversas e interações digitais (provavelmente, a primeira geração a já nascer sabendo o que é “touch”).
O comportamento dos Millennials é parecido com o da Geração Z, mas um pouco mais diverso e plural – talvez pela faixa etária: dos 24 aos 37 anos, as pessoas tendem a estar no auge dos esforços relacionados à carreira. Por isso, o consumo de livestreamings (30%), podcasts (20%), rádio (26%) e imprensa impressa (19%) é significativamente maior em relação aos mais novos, de 16 a 23 anos.
Os streamings de filmes, séries e documentários são bastante populares (41%), perdendo apenas para os vídeos online, que ainda reinam – claro – e alcançam a marca de 44% de penetração nesse público.
O interessante dessa diferença de comportamento é que a rotina, por conta do trabalho, muda os hábitos de consumo – seja na compra de roupas, seja na busca por conteúdo. Ou seja, as pessoas que já estão ativas no mercado de trabalho tendem a ter mais interesse pelo conteúdo midiático informacional, inclusive no que diz respeito à pandemia e seus impactos (por mais diversos que estes sejam).
Caminhando para os pais e tios da geração Z, a geração X (hoje entre 38 e 56 anos) tem um comportamento bastante interessante. Talvez por não ter já nascido com tanta facilidade na conexão com a Internet, a geração X é a que mais aumentou o tempo que passa assistindo à televisão (45%), inclusive nas plataformas de streaming (38%) – o que já evidencia mais conectividade, por mais que esta não seja no Youtube e no TikTok.
Entretanto, o consumo de jornais e revistas impressos é curiosamente o menor: apenas 7%, assim como a geração boomer. Ou seja, os millennials e a geração Z leem mais materiais impressos que seus pais, tios e avós!
Apesar de ser notável o aumento no consumo de conteúdo digital pelos “baby boomers”, seus hábitos foram os que menos mudaram por conta do isolamento social, mantendo a concentração na TV.
Com exceção das redes de streaming (21%), todas as outras formas de consumo de conteúdo, tais como podcasts, vídeos online, rádio, entre outros, são pouco significantes, não passando de 15% de boomers conectados em busca de diversos meios e veículos.
Legal, sabemos onde o conteúdo é consumido.
Mas sabemos qual é esse conteúdo?
Sim, sabemos.
Nutricionistas, professores de yoga, economistas, médicos, enfermeiros, empresários, experts em RH, políticos, artistas... todos, de repente, sabem o que devemos fazer para enfrentarmos a crise e conhecem o mundo pós COVID-19.
Como já disse meu querido professor doutor Fabio Mariano: nós sabemos como entramos no isolamento social, mas não sabemos como sairemos dele.
E é isso mesmo: pessoas se isolaram juntas como casais, mas terminaram o relacionamento pelo convívio; estudantes começaram o último semestre da faculdade em fevereiro, mas possivelmente nem se formarão agora; startups receberam milhões em investimentos em janeiro, mas provavelmente não atingirão nem a meta do primeiro quarter antes do terceiro... e assim vai!
Não existe uma pessoa no mundo que sabe como passar por essa crise – afinal, nunca ninguém o fez!!! Assim como não existe quem sabe como estaremos quando tudo acabar.
Ficando mais tempo em casa, passamos nossos finais de semana no sofá, ou na cama, ou na poltrona. Independente do cômodo, a posição tende a ser a mesma: 4 dedos para trás, dedão para frente, uma tela entre eles apoiada na palma da mão. Dedão passando na tela de baixo para cima. Mas e aí, o que você vê?
Há sim nutricionistas, professores de yoga, economistas, médicos, enfermeiros, empresários, experts em RH, políticos, artistas, etc com palavras interessantes e dicas importantes, mas boa parte de quem tanto fala o que fazer, de fato, pouco faz.
Não significa que psicólogo não pode ter problema; coach não pode ter demorado até escolher sua profissão; médico não pode ficar doente... não é isso! Mas a veracidade dos fatos e a unicidade de opiniões são raras características das milhares de lives disponíveis todos os dias nas redes sociais.
Além disso, imprescindível ressaltar: muitos veículos de comunicação, principalmente portais de notícia e jornais, adotam um lado político e praticam – muita – politicagem (no sentido mais pejorativo da palavra). Raro, se não impossível, um veículo exclusivamente informacional. E não digo que está errado ter um “lado”; o errado é deixar que esse posicionamento culmine em falsos dados, principalmente quando falsos dados podem levar pessoas a depressão, pânico, distúrbios alimentares, entre outras diversas doenças.
Filtre. Absolutamente. Tudo.
E entendamos o seguinte: o mundo já era mundo antes do COVID-19.
A adaptação é ótima, e super necessária, mas é imprescindível muita atenção nas fontes do conteúdo consumido e também em sua quantidade
- Carolina Manhães
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